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O Portal da Mulher

quarta-feira, 25 de julho de 2012

SER ESCRITOR

Ser escritor é se ver sozinho
Diante de uma folha de papel em branco
Pedindo para ser preenchida um pouquinho
Mas as vezes o cérebro só pega no tranco.

Ser escritor é sofrer solitário
Procurando idéias novas que não vem
É preciso as vezes um atalho
Lembrar fatos noticias boas e ruins também.

Ser escritor é as vezes agradar a poucos
E ofender a muitos mesmo sem querer
De santos demônios e também loucos
Temos um pouco para conseguir viver.

Hoje dia vinte e cinco de julho
É dos escritores o festivo dia
Saúdo todos os colegas em um embrulho
Com abraços beijos e algumas Ave Marias.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia} 
Nepomuceno MG

segunda-feira, 23 de julho de 2012

MARIDOS DE ONTEM E DE HOJE

  Se atrasarmos o relogio do tempo, vamos encontrar o jeito antigo de viver, porque tudo era muito diferente no passado, principalmente no relacionamento dos casais: os maridos eram amos e senhores, suas decisões eram irrevogaveis e indiscutiveis e as esposas apenas obedeciam caladas a todas as ordens dos maridos, sobre qualquer assunto.

  As mulheres eram apenas donas de casa e mães de familia, ocupavam seu tempo com seus afazeres domésticos; todas sabiam cozinhar, preparar doces e quitandas, costuravam e cuidavam das roupas da familia que lavavam, engomavam e passavam, mas nada sabiam de assuntos financeiros, porque seus maridos eram os provedores e cuidavam de tudo.

   Quando jovens eram mantidas pelos seus pais e se ocupavam do aprendizado com suas mães para se tornarem boas esposas, e da tutela do pai, passavam para a tutela do marido, que era escolhido pelas familias, nunca pela moça, mas depois do noivado acertado, as noivas passavam a receber agrados como flores, bombons e lindas serenatas.

   Namorar a moda antiga não passava dessas coisinhas, porque as visitas de noivos eram vigiadas de perto pelas mães, avós ou irmãs casadas; intimidades só depois do casamento, mas era o costume e ninguém reclamava, depois do casamento pouca coisa mudava, porque a unica distração das esposas era receber as amigas para um chá da tarde.

   Ler romances escolhidos pelo marido também era aceitável e quando os filhos chegavam, mesmo esses pequenos divertimentos se acabavam, porque mãe era de tempo integral e ai as mulheres só ocupavam seu tempo com a casa e os filhos, mas a compensação era não ter a obrigação de ganhar dinheiro, porque homem decente sustentava a familia sem ajuda feminina.

  Essa era a rotina das familias de antigamente, mas tudo mudou e hoje as mulheres disputam empregos com os homens em todas as áreas e como colaboram com os gastos da familia, elas exigem que os trabalhos da casa sejam devidamente  divididos e os maridos de hoje precisam ser cheios de prendas domesticas como suas esposas.

   Se no passado os maridos não entravam em uma cozinha, hoje os homens são quase todos bons cozinheiros  e se o casal tiver filhos, o pai também sabe trocar fraldas, dar banho e alimentar uma criança, mas diferente das enormes familias do passado, hoje ninguém quer encher o mundo, um filho ou dois e está de bom tamanho.

   As esposas antigas engoliam sapos e até crocodilos, mas nem pensavam em deixar seus maridos, porque a sociedade não aceitava uma mulher separada e também nenhuma mulher tinha qualquer tipo de renda e vivia sustentada pelo marido, diferente dos tempos atuais, que as pessoas se casam já pensando em se divorciar  e é normal.

   São vidas de épocas diferentes, mas apesar de se fingirem de fortes, as jovens modernas bem que gostariam de receber flores, bombons e ouvirem romanticas serenatas em sua homenagem, mas não conseguem, porque o romantismo morreu afogado dentro de uma garrafa de cerveja e foi incinerado com uma nuvem de fumaça de cigarro.  

                     Maria Aparecida Felicori { Vó Fia }

                                        23/07/2012

domingo, 22 de julho de 2012

NA ESCOLA

  Nos anos trinta, o sistema escolar era totalmente diferente dos tempos presentes, era tudo de uma simplicidade franciscana: ninguém levava lista de material escolar para casa, porque simplesmente não existiam materiais escolares, o que existia era um pedaço de pedra  cinzenta, que era chamada de lousa e um lapis que mais parecia um estilete, também de pedra.
   Os livros eram reverenciados e bem cuidados, porque pertenciam aos grupos escolares e passavam de um ano para outro, só mudavam os alunos, nunca os livros, mas as crianças eram bem educadas e chamavam as professoras de senhoras, senhoritas ou donas com o maximo respeito e estudavam muito, porque só passava de ano quem merecesse.
   Os alunos eram responsaveis, porque se perdessem o ano seriam castigados pelos pais e se sentiriam humilhados ao voltar no ano seguinte como repetentes, porque diferente do momento, os pais daquela epoca impunham limites e exigiam respeito para eles e para as outras pessoas e as crianças eram mais felizes, porque sabiam que os pais estavam ali para lhes mostrar o caminho certo.
   Essa segurança dava as crianças a certeza de que sua obrigação  era estudar, ser cortezes e seus pais os apoiariam em tudo que precisassem e não era a pouca informação que recebiam, que os tornava obedientes e estudiosos, era o amor e carinho que sentiam pelos seus pais e o principal era o clima de respeito existente, era o tempo dos senhores pais.
   Mas o século acabou e agora no século vinte e um, chegou o tempo dos senhores filhos, mas são senhores apenas na falta de educação e de respeito, porque continuam dependendo financeiramente dos pais até quase velhos, porque não estudam e não trabalham; a maioria dos filhos de hoje, são os senhores mais coitados desse mundo e quando seus velhos morrerem, vão viver de que?
                      Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}
                                        22/07/2012
   

PASSEIO UTÓPICO COM JORGE AMADO


   Ler e escrever sempre foi uma prefererência minha e comecei cedo a ler romances, mas durante meus primeiros encontros com a leitura, esbarrei em uma dificuldade quase intransponivel, porque no interior faltavam livros, eram muito caros e bibliotecas só existiam nas grandes cidades, mas um amigo de meu pai,  passou a me emprestar livros de sua coleção e entre eles encontrei o grande Jorge Amado e com ele inventei um passeio, porque cada texto me levava a algum lugar diferente e Jorge caminhava comigo, com ele caminhei por todos os seus cenáriosa cada livro eu me sentia na Bahia, nas ruas e praias de Salvador jogando capoeira  com os Capitães de Areia ou no bar do turco Nassib em Ilheus me deliciando com os quitutes de Gabriela, quem sabe saboreando a moqueca de siri mole de Dona Flor, depois de passar pela Tenda dos Milagres. Durante muitos anos , fiz e refiz esse passeio utópico ao ler e reler a grande obra de Jorge Amado; depois de tantos anos passados, ainda me emociono  com os textos desse baiano genial e inesquecivel. Saravá meu companheiro de passeios e de sonhos, que Iemanjá permaneça eternamente a seu lado saudoso Jorge Amado.
                     Maria Aparecida Felicori { Vó Fia }
                                            22/07/2012
Esse modesto texto de minha autoria, faz parte de uma Antológia comemorativa dos cem anos de nascimento do escritor Jorge Amado, que será lançada no dia 9/08/2012 na Bienal Internacional do Livro em São Paulo, no Anhembi.

SAFRA DAS GOIABAS


                        

Antigamente no mês de Março a chuva caia aos potes, eram as águas que se tornavam enchentes e que eram chamadas de Enchente das Goiabas; aquele exagero de água formava cascatas onde em tempo normal só existia modestos ribeirões, eram enchentes alegres, porque as goiabeiras silvestres se enchiam de flores e depois de suculentas frutas.

  Aquelas dadivosas goiabeiras não pertenciam a ninguém, nasciam com a força da natureza e com a ajuda dos pássaros, que espalhavam suas sementes por todos os lados e quando as frutas amadureciam era tempo de comer e as mulheres e crianças se espalhavam alegremente pelos campos com grandes balaios e colhiam aquele perfumado presente de Deus.

   As senhoras ricas ou remediadas, não saiam a cata das goiabas, mas compravam as frutas das menos favorecidas; a medida para vender era uma lata de vinte litros que vinha com querosene e era bem limpa antes de ser usada e depois da compra, todas as donas de casa partiam para suas cozinhas para preparar goiabada cascão ou de massa fina e deliciosas geleias.
   O preparo dessas delicias era trabalhoso e todos os componentes das familias trabalhavam: as crianças abriam as goiabas e retiravam as sementes e os adultos cuidavam de cozinhá-las em tachos de cobre e passá-las por grandes peneiras de taquara, para depois medir a massa, colocar o açucar e levar ao fogo dos fogões de lenha, para preparar o doce.
   Durante horas seguidas, as pessoas se revezavam mexendo a mistura com grandes pás de madeira, até dar o ponto certo para corte ou compoteiras; depois dos variados tipos de goiabada ficarem prontos, se voltavam para o preparo da geléia e era hora de coar as sementes na peneira e levar o suco ao fogo com açucar e mexer até o ponto de geléia.
   As pequenas cidades e vilas do interior, se tornavam festivas com  com a chegada da Enchente das Goiabas e era um prazer andar pelas ruas, porque o doce cheiro dos tachos nos fogões, se espalhavam por todos os lados dia e noite e rendia serviço também para os carpinteiros, que trabalhavam dobrado fabricando as caixas para colocar o doce.
   As caixas eram forradas com papel celofane e o doce era ali colocado e depois de frio as caixas eram fechadas com uma tampa de correr feita de madeira e empilhadas nas despensas para o consumo do ano inteiro, mas Março chegava ao fim e com ele as enchentes terminavam e as goiabas também e o delicioso cheiro de goiabada sumia do ar.
   Os grandes tachos de cobre, as peneiras de taquara  e as enormes pás de madeira eram bem lavadas, secas e cuidadosamente guardadas para a chegada das Águas de Março do proximo ano, com sua bem-vinda Enchente das Goiabas; agora a natureza agredida se vinga de todas as maneiras e já não se tem nem enchente e nem a saudosa Safra das Goiabas.
                  Maria Aparecida Felicori { Vó Fia }
                                 22/07/2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

SAUDADES

   Ter saudades de pessoas, acontecimentos e de festas é normal, mas saudades de um cemitério é bem estranho, mas Lilita tinha uma uma grande saudade do velho cemitério da Vila de São João dos Finados; quando ela se referia a esse assunto, a comunidade ria dela, e dizia: coitada da Lilita, está cada vez mais caduca, apesar de  só ter quarenta anos.

Ela sabia que era motivo de chacotas, mas não se importava, porque seu coração doia quando se lembrava do cemiterio de sua infancia e juventude; aquele velho de mais de cem anos, era cercado por um muro de pedras superpostas, com a mesma altura na parte de fora como na parte afundada no chão e os mais velhos contavam que os escravos transportaram as pedras na cabeça, uma de cada vez.

   Parada em frente ao que fora um cemitério, ela se lembrava das coisas que aconteceram ali, como a historia do coveiro Adauto que cultivou uma plantação de melancias, aboboras e mamões na parte reservada aos suicidas, assassinos e mulheres de má fama e quando foi repreendido pelo feito, ele se justificou dizendo: tem importancia não gente!

   E explicava seu entendimento da questão, assim: uai pessoal, essa parte aqui não é benta, porque os padres acham que eles não merecem e depois quase ninguém é enterrado aqui, suicidio nessa vila é coisa rara, assassinos aqui não tem e mulher de má fama menos ainda; a terra é de cultura e eu tenho oito filhos para alimentar, entenderam?

   Entender ninguém entendeu, mas as frutas colhidas ali eram perfeitas, davam água na boca e os filhos do coveiro Adauto eram fortes e bonitos; tinha também a lenda de um corpo seco, escondido atrás do altar da capela que existia lá, as crianças da vila acreditavam em sua existencia, morriam de curiosidade, mas ninguém foi lá conferir, porque o medo era maior que a curiosidade.

   E os fantasmas? quem morava perto do velho cemitério, contava que ouvia arrastar de correntes e gemidos de almas penadas depois da meia noite, aé o  primeiro galo cantar anunciando o raiar do dia; o mais famoso fantasma era de uma moça que aparecia muito linda e agarrava qualquer homem que passasse por lá antes do dia nascer, muitos a viram.

   Até a Lilica ria  das lembranças, mas quando ela se lembrava do incendio que destruiu a linda capela do cemitério, ela chorava e se enraivecia, porque na época do acontecimento, o povo achou que  foi incêndio criminoso para encobrir o roubo do lindo e valioso São Miguel Archanjo, que ornava a capela e tinha desaparecido pouco antes do incêndio.

   Verdades ou lendas, para Lilica não importava, o certo mesmo era que de seu amado cemitério nada mais restava além de suas lembranças e de suas saudades e o que mais incomodava a saudosa Lilica, era o fato da capela ter virado cinzas e o assunto continuar morto e enterrado, como o ultimo funeral acontecido no velho e esquecido  Cemitério da Vila de São João dos Finados. Requien Pace!!!

                           Maria Aparecida Felicori { Vó Fia } 

                                         21/07/2012